terça-feira, 13 de setembro de 2011

Palavras sem lugar

Sobre o que a gente escreve quando se perde um amor e não se sente mais a falta?
O que é possível escrever com o peito vazio? Tem quem faça qualque coisa com uma simples cabeça cheia,mas as palavras da cabeça cheia caem todas nochão... como estas.
Sobre o que a gente escreve quando se perde? Qual o sentido de deixar palavras feitas de pedra quando toda a vontade é feita de vento e a mudança total e absoluta é a única forma de finalmente escrever algo bom... em mim, nos outros, de mim nos outros...
Dos vícios, o cigarro é o menos prejudicial. Dos vícios, o único novo é gelado e dourado, espumante.
Dos vícios, o maior de todos é o que repete os antigos.
Me descobri hoje um viciado em não crescer nunca. Não consigo largar a infância: qualquer par de braços é possibilidade de colo, qualquer desatenção é motivo de birra, qualquer desejo é motivo de arte. Eu tenho a síndrome do filho único que se sente caçula, minhas vontades são lei e meu choro é ouro.
Confesso que tem várias coisas que não digo, me envergonho do papel e da possibilidade infinita dos olhos que o correrão. Sou fraco.
Confesso!
Não!
Não grita isso por aí!
Como a gente sabe a medida certa do dentro pra fora e do fora pra dentro?
Dá vontade de nunca falar mais nada, dá medo de não ter mais nada além de mim, de ter tudo menos eu.
Como deve ser assassinar um anjo? Não ter discursos? Errar sem culpa, não ter vergonha de sentir tanto? Todo mundo vira adulto realmente? Como deve ser não precisar? Não ser necessário e não se abandonar?
Como deve ser ser outro?
A maior distância que já tentei percorrer terminava no outro. A maior distância que já percorri foi a metade desse caminho. Sentei no meio do percurso, exausto, derrotado por muitos outros maratonistas muito mais bem adaptados a essas longas distâncias.
Confesso, eu não sei ser sozinho e não sei não ser.

Eu só queria encontrar um espelho em uma outra pessoa e me mostrar o quanto eu estou bonito.
Eu queria morar na ferida de alguém.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ser Vezes

Foi o som da água doce da música.
Foi o som de um violão no desvio do olhar.
Foi o som sem som nos incisivos e nos molares, nos caninos e nos felinos
Foi o silêncio e o cheiro que o silêncio tinha.
Foi a vida, le petite mort.
Foi uma vez.

Fui noite por um dia.
Fui embora e voltei. Voltei...
Fui às ambições do atirador de facas, O Trêmulo.
Fui ver o tempo marcando os ponteiros da falta, de novo e de novo.
Fui fazer origami de saudade pra disfarçar as marcas de dobras.
Fui dormir e não consegui. Sonhei e me seguiu.

É um tipo de escuridão.
É um tipo de piada constrangedora.
É exatamente como a tristeza. Não é.
É doença, é barco, é o leste, é risco, é um traço. É um maço inteiro.
Era uma vez só.

Sou alguém que eu nunca fui. De repente, alguém que eu não sou...
Sou engraçado?
Sou interessante, talvez? Sagaz?
Sou bonito? Misterioso, cativante, simpático, habilidoso?
Sou? Hein? Sou?
Sou som?
Sou pura imaginação, sou Deus quando imagina a si mesmo.

Será que tem lugar?
Será novo? Será de novo?
Será hoje à tarde, será hoje à noite, amanhã de manhã...
Será até que não seja. Até que passe... até que ladre... até que aprenda outras línguas.
Será uma pequena canção.
Será o fim, uma pena.
Será difícil.
Será só uma vez.

Serei uma resposta atrasada. Talvez incorreta.
Serei na escada esperando, serei na esquina fingindo, serei no pescoço mordendo, serei no domingo chorando, serei nos cabelos perdido, serei no vazio ansioso.
Serei cegado pelo azul, serei desequilibrado pela altura, serei tropeço, serei melhor. Serei essa promessa, serei mais fumante, serei mais bebedor, serei menos o que deveria.
Serei pequenas mortes até que venha outra pequena, um pouco maior.
Serei um, só, vez.

Mas talvez não seja nada.