segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Hamlet nas Minhas Manhãs

Ai, que desvontade...
Algo se pendura nos meus olhos e enfraquece meus músculos.
Os buraquinhos da janela transformam o cômodo em câmara escura, os diafragmas da câmera do meu sono. Projetam na parede a porta do jardim lá fora... os vidros quadriculados de ferragem branca.
E uma cortina.
Uma cortina branca se esquiva do vento, escrevendo uma poesia cinética, uma ação de ninar. A cortina branca a mercê do vento, soprando minha vontade daqui.
Silêncio e os barulhos do mundo. Imobilidade e olhos passeando, cogitando navegar o corpo. Ausência da horas e o medo das horas passando. Uma mão que é de sonho escrevendo e uma voz que é lenta correndo. Vou levantar.

Como?

O tempo parou.

E quando foi que pararam os corações para que prosseguissem os corpos?
Quando foi que lágrima se tornou água e começou a ser engolida? E quando foi que perdeu o sal?

Quando foi que tudo secou para que tudo ficasse tão lindo?
Quem se extasiou?

Quando foi que o amor adoeceu assim? Quando se tornou errado?
Quais os corrompidos?

Quando foi que cinema teve que virar vida e a vida teve que virar as costas?

Quando foi que as palavras acabaram e a língua se conformou?
Quando os ouvidos se esqueceram?

Quando a morte virou começo afinal?

A gente parou no tempo.