quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Olhos de Ressaca

Imaginei meus olhos de ressaca, como os da Capitu...
Mas os meus... vão se ressaquiando de outra maresia: vão ficando enjoados, bambos, verdes, pálidos, vesgos. Eu fecharia as pálpebras pra não vomitar por cima de toda a vista, abriria de novo...
Nova ânsia e mais uma vez fecharia os dois olhos.
Ao abri-los novamente, momentaneamente aliviado, me arrependeria de tudo que havia bebido com aqueles mesmos olhos. Juraria nunca mais exagerar na dose do olhar.
Um novo impulso e os olhos se fecham uma vez mais!
Da próxima vez as pálpebras não seriam suficientes para represar todo o vômito, que irromperia pelos canais lacrimais primeiro, empurrando as paredes dos olhos até que elas não pudessem mais permanecer e se rendessem, lavando as mãos para os prejuízos daquele turbilhão que de repente se libertava em euforia e caos de uma vez só.
Sim, as pálpebras seriam arrombadas!
Brutais trombas d'água irrompem pelas aberturas oculares, como quando a água surpreende Rose e Jack no corredor do Titanic depois de ela livrá-lo das correntes que o afogariam e poriam fim ao filme antes mesmo de o navio afundar. São ondas selvagens como os cavalos selvagens que eu nunca vi ao vivo, mas que são muito mais selvagens como desconhecidos idealizados-musculosos-ferozes-velozes-indomados-narinasdilatadas-olhosinjetados-crinasaovento.
São ondas enormes feitas de tudo que eu não disse, que eu não queria dizer, de tudo que eu queria dizer, tudo que eu nunca diria e que eu disse, feitas de tudo que eu deveria dizer e que outros ouvidos queriam que eu dissesse... tudo misturado formando uma massa plasmática de cor indefinida e revelando formas e texturas inesperadas aqui e ali. Um vômito, de aparêcnia meio empelotada, meio bege, meio marrom, meio verde, meio lilás, laranja, carmim, listrado, de padrão de oncinha, pedaços alimentícios não identificados, anônimos, sem RG, indigentes, fodidos depois de fodidos, mas antes amados... Só depois "fodidos". Primeiro ama-se, depois fode-se.
E aquilo tudo sendo vomitado, a aparência de bílis nas retinas.
Mais contrações seguidas de novas investidas de ânsia e mais jatos de vômito daquilo que a garganta, a língua e as mãos, mas principalmente as palavras não digeriram.
...
Novo eco de bílis...
Mais contrações...
Bílis...
Bílis...
Eco...
Contrações...
Bílis...
Eco...
Eco...
Eco...

Os olhos se fechariam agora de cansaço... esgotados. Depois, se pudessem se fechar em um nível ainda mais profundo - se é que não podem - se fechariam de medo antes de se semicerrarem diante do cenário.
Entreabririam-se para observar o estrago e comprovariam que foi catastrófico: tudo ali... dito. Poças nojentas de confissões mal-digeridas misturadas sobre aquele sofá emprestado. Absolutamente tudo de secreto ao alcance fácil de qualquer interpretação... tsctsctsc... "Nunca mais vou beber tudo o que vi", diriam os olhos, mas eles tinham problemas maiores e se fechariam uma terceira vez... de vergonha.
"Tanto esforço desperdiçado num porre dos olhos, numa congestão do sistema expressivo...!".

- Never choose between two.
- Don't call me a contra.

- You know how I feel. I'm feeling good...


Eco...
Eco...
Eco...
Eco...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Palavras sem lugar

Sobre o que a gente escreve quando se perde um amor e não se sente mais a falta?
O que é possível escrever com o peito vazio? Tem quem faça qualque coisa com uma simples cabeça cheia,mas as palavras da cabeça cheia caem todas nochão... como estas.
Sobre o que a gente escreve quando se perde? Qual o sentido de deixar palavras feitas de pedra quando toda a vontade é feita de vento e a mudança total e absoluta é a única forma de finalmente escrever algo bom... em mim, nos outros, de mim nos outros...
Dos vícios, o cigarro é o menos prejudicial. Dos vícios, o único novo é gelado e dourado, espumante.
Dos vícios, o maior de todos é o que repete os antigos.
Me descobri hoje um viciado em não crescer nunca. Não consigo largar a infância: qualquer par de braços é possibilidade de colo, qualquer desatenção é motivo de birra, qualquer desejo é motivo de arte. Eu tenho a síndrome do filho único que se sente caçula, minhas vontades são lei e meu choro é ouro.
Confesso que tem várias coisas que não digo, me envergonho do papel e da possibilidade infinita dos olhos que o correrão. Sou fraco.
Confesso!
Não!
Não grita isso por aí!
Como a gente sabe a medida certa do dentro pra fora e do fora pra dentro?
Dá vontade de nunca falar mais nada, dá medo de não ter mais nada além de mim, de ter tudo menos eu.
Como deve ser assassinar um anjo? Não ter discursos? Errar sem culpa, não ter vergonha de sentir tanto? Todo mundo vira adulto realmente? Como deve ser não precisar? Não ser necessário e não se abandonar?
Como deve ser ser outro?
A maior distância que já tentei percorrer terminava no outro. A maior distância que já percorri foi a metade desse caminho. Sentei no meio do percurso, exausto, derrotado por muitos outros maratonistas muito mais bem adaptados a essas longas distâncias.
Confesso, eu não sei ser sozinho e não sei não ser.

Eu só queria encontrar um espelho em uma outra pessoa e me mostrar o quanto eu estou bonito.
Eu queria morar na ferida de alguém.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ser Vezes

Foi o som da água doce da música.
Foi o som de um violão no desvio do olhar.
Foi o som sem som nos incisivos e nos molares, nos caninos e nos felinos
Foi o silêncio e o cheiro que o silêncio tinha.
Foi a vida, le petite mort.
Foi uma vez.

Fui noite por um dia.
Fui embora e voltei. Voltei...
Fui às ambições do atirador de facas, O Trêmulo.
Fui ver o tempo marcando os ponteiros da falta, de novo e de novo.
Fui fazer origami de saudade pra disfarçar as marcas de dobras.
Fui dormir e não consegui. Sonhei e me seguiu.

É um tipo de escuridão.
É um tipo de piada constrangedora.
É exatamente como a tristeza. Não é.
É doença, é barco, é o leste, é risco, é um traço. É um maço inteiro.
Era uma vez só.

Sou alguém que eu nunca fui. De repente, alguém que eu não sou...
Sou engraçado?
Sou interessante, talvez? Sagaz?
Sou bonito? Misterioso, cativante, simpático, habilidoso?
Sou? Hein? Sou?
Sou som?
Sou pura imaginação, sou Deus quando imagina a si mesmo.

Será que tem lugar?
Será novo? Será de novo?
Será hoje à tarde, será hoje à noite, amanhã de manhã...
Será até que não seja. Até que passe... até que ladre... até que aprenda outras línguas.
Será uma pequena canção.
Será o fim, uma pena.
Será difícil.
Será só uma vez.

Serei uma resposta atrasada. Talvez incorreta.
Serei na escada esperando, serei na esquina fingindo, serei no pescoço mordendo, serei no domingo chorando, serei nos cabelos perdido, serei no vazio ansioso.
Serei cegado pelo azul, serei desequilibrado pela altura, serei tropeço, serei melhor. Serei essa promessa, serei mais fumante, serei mais bebedor, serei menos o que deveria.
Serei pequenas mortes até que venha outra pequena, um pouco maior.
Serei um, só, vez.

Mas talvez não seja nada.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Sinceridade

Acendi um cigarro e apaguei a luz. Mentira, não apaguei a luz coisa nenhuma. Tomei um banho e botei Parethentical Girls pra tocar. Mentira, não tem música também; tem a Glória Pires chorando na novela das oito. Comi alguma coisa e enchi alguma coisa com vinho seco. Mentira! Terminei com o suco de maracujá cheio de formigas em cima da pia desde hoje de manhã.
Sentei aqui para ser sincero. Mentira!
Acordei hoje de manhã para fazer a diferença. Mentira!
Me orgulho de ter esquecido. Mentira!
Diminuindo o cigarro. Mentira!

domingo, 10 de abril de 2011

Canções da Partida

Não dá pra continuar assim! Me fala onde você se esconde aqui dentro! Pára de brincar de fazer eco aqui dentro! Chega! Isso deixou de ser brincadeira há muito tempo e eu não posso mais com a disritmia. Eu não posso mais com esse vício, eu não posso mais com as decepções,eu não posso mais com o seu casual, com esse caso, com isso que não é,eu não posso mais viver achando que é isso que não é!
Sai! Por favor, vai embora. Acho que quem não consegue ir embra sou eu! Eu preciso ir embora...
Bate outra vez com... o meu coração? Continuo na mesma estrofe, voltando ao jardim de novo e de novo, voltando ao jardim de nobvo e de novo!
Não posso mais com a crueldade, não posso mais com essa sozinhês. Alguém me leva prum lugar longe daqui. Cansei de ser ilha, cansei de ser lua, cansei de ser barco sem vela e cansei das suas marés, estou marejado de tanto teu mar.
Não há mais balanças nem peneiras em que eu confie. Não há filtros suficientes pra separar a velha rima. E ela continua rimando comigo pois não sei mais onde moro, não tenho vontade de morar em lugar nenhum. Pra todo espelho que olho não há corpos marcados! Chega dessa brincadeira! Eu desisto... quero caminhar vazio... eu quero caminhar sem você. Não há mais folia, há revolta e não há aquele dom nem o novo dia.
Você só me ensinou a te querer, a te querer, e te querendo eu estou começando a me perder...
Acabei de me afogar nesse trecho da música. Estou desesperado para me abandonar em algum lugar dessa canção para sempre. Estou desesperado porque fui abandonado nesse trecho da música.
Não é no emaranhado dos meus cabelos que você vai fugir do mundo! Meu peito não é o seu refúgio! Vai embora!
Eu quero ser exorcizado! Eu quero ser desipnotizado! Eu quero ser exorcizado dessa pluma leve, suave coisa nenhuma.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lágrimas Guardadas

Houve, sim, momentos em que fingi, em que assumi um controle que não tinha, em que disse que tudo iria ficar bem comigo, que não havia diferença entre as suas costas indo e o seu sorriso vindo. Enquanto seus olhos eram postos em mim, eu te servia um ´adeus´ sorridente.
Mesmo então eu nunca te neguei uma lágrima. Eu, uma casa que chovia por dentro, a tempestade fustigando as janelas dos olhos, uma enxurrada descendo garganta abaixo.. e... um `adeus´ feito de sorriso.
Mas no instante em que seu olhar deixou de me cobrir, senti um frio-solidão, você partindo de mim e, de repente, tanto espaço vazio aqui dentro, tantas coisas abandonadas e sem função, brinquedos abandonados ao pó, perdendo sua graça tão rápido quanto seus passos de saída.
Eu, uma casa vazia às três horas da tarde, parado no mesmo lugar em que me deixou, em uma calçada sem rua, em um lugar sem endereço, sob uma árvore sem sombra, observando suas costas levarem seus cabelos embora, o cheiro da sua pele, a mania das suas mãos, a personalidade do seu andar... tudo seqüestrado pelas suas costas.
E apenas quando te perdi de vista e te vi longe demais da minha calçada, foi que quis te negar uma lágrima. Justamente aí elas me inundaram e transbordaram: quando percebi que nunca houve em você uma lágrima guardada só para mim.

terça-feira, 29 de março de 2011

Bagagem de Mão

Saudade...
... é o que mais pesa na minha bagagem.
Esses dias eu abri minha mala e encontrei teu rosto adormecido, encontrei aquele teu riso mais bobo, o jeito como tuas mãos desajeitadas regem teus discursos, eu abri minha mala e escutei de novo o teu fôlego furtando meu cheiro, teus dedos despindo minha alma...
Estou com saudade de dizer teu nome como se ele me pertencesse, de ouvir meu nome matar a sede na tua saliva, saudade dos teus olhos, dos poemas, da pele, da letra, do que era bom... Saudade daquela palavrinha que sempre te confundia: blibioteca...
Eu não entro mais em bibliotecas.
Estou tentando desaprender a ler, quero esquecer a história que você escreveu na minha pele, quero pular o capítulo que você gravou nos meus gostos, na minha vontade. Quero esquecer seu título. Eu, agora, comemoro cada página arrancada, virou meu livro de cabeceira... a saudade... Comemoro cada página, cada página...
E, logo, nossa história vai parar nas prateleiras da minha biblioteca de páginas que arranquei de outros livros...
Amores vão, vêm... vêm e vão... e vão e vêm... Mas o amor nunca vem em vão...
Eu preciso me livrar dessa mala, preciso parar de fingir que eu não tenho um coração.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Malboro Light Maço

Notas dissonantes e solitárias se envolvem de silêncio e tempo. Xixi enche bexiga cheia. Uma valsa nos pés. Ouvidos olvidados de vez. Vento nas mãos para refrescar, palavras na cabeça para fugir. Um cemitério de pianos roubados a se visitar...
Gut Gut Gut...
Dor de garganta e catarro...
Tá caro... o cigarro... Paro? Tá caro. Não paro. Paro? Não paro! Paro ou não paro?
"Tá na cara", ele escancara.
(Escarro)
Mora na... Morra na...
(cuspo)
Musgo no refrigerador! É o sinismo do catarro. O sarro do cigarro. O trago da cisma. O sinistro da garra. O esmo da gana. O mesmo da trama. É o drama, é o gesto, o credo e a cria. É a CIA, é a C&A, é a cia.
É a cia.
É a falta de brio. E o cio é o seu (Bombril)! Senhas. Senhas! Senhas, SENHAS! Senhas para todos os maços, para todas as moças, para todas as marcas! Para a C&A.
Fumando nuvens carregadas de trovões. Relampejando tosses. Vício possesso. Caro fumo passageiro; passagem caridosa ao viciado. Fumante dos passos escassos, dos queridos caretas picados. Das picas pisadas dos filmes, apenas carretas idas, nunca mais voltadas.
E ainda a vontade de mijar.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Coito Poético na Concha

Escrever é como se sentir nu, com o corpo entregue a um desejo fulminante de pertencer. E, pertencendo, sou eu o objeto da escrita e não o contrário. É ela quem me cria, não sou eu o criador.
Me vejo ameaçado pelo papel, mas meu desejo é chamado pelas palavras do meu eu guardado.
O papel que me ameaça é também o cofre de mim mesmo, e a ponta da caneta é o segredo capaz de revelar-me, de soltar os vários eus que consomem meu corpo.
Escrever, ao mesmo tempo, é como trancar-se, prender-se no papel e abandonar ao vento uma parte de si.É também pertencer, é ser, conhecer a si mesmo através das palavras extraídas do seu eu inconsciente.
Talvez, então, a folha de papel não seja mais do que um espelho que ora se parte e quebra me expondo como realmente sou: fragmentos, cacos.
E apesar de todas as minhas urgências no final do papel ou da minha vidinha, eu sou nada.


Luiz e Regina

Acasalamento Poético na Concha

Os corpos se desnudam sob as árvores.
Serpenteiam o dia.
São como cobras preparando o bote sobre nosso desejo. O nosso velho e monstruoso desejo camuflado.
É o monstro que ameaça a segurança debaixo da cama.
É uma urgência desmedida que desespera e que espera e que é esperança e que é desistência.
É estar de mãos dadas com a morte, mas é a morte vestida com sua roupa de vida de gala nos levando a uma grande festa.
É uma farsa, mas só você sabe da real situação, que é simplesmente deixar o desejo selvagem correr solto e devorar os corpos que se desnudam sob as árvores.


Roberto e Márcia

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Através da janela do escritório em um dia ruim

Uma menina caminha até o jardim.
Carrega nos braços travesseiros, lençóis, alguma coisa rosa de plástico, sacolas vazias de plástico e de pano; na boca, uma chupeta rosa.
O vento toma a sacola de pano das mãos da menina, que larga tudo no chão e corre para um resgate desesperado da sacola. Recupera no ar depois de alguns segundos e vai caminhando de volta.
Novamente o vento arranca a sacola das mãos da menina fazendo-a correr atrás do objeto roubado. Desta vez, ao recolher a sacola do chão, a menina se enfurece e bate a sacola contra o peito, as mãos muito apertadas e o rosto todo torcido de irritação enquanto vai caminhando de volta.
No meio do caminho, mais uma vez o vento. Mas a sacola está bem segura e não sucumbe às mãos que sopram sua leveza. O rosto da menina se distorce e ela olha para a sacola em suas mãos... Parece tentar entender alguma coisa... Ela joga a sacola para cima com uma força de lançar um foguete ao espaço e assiste a sacola voar.
A menina mastiga um pouco sua chupeta e continua seu caminho em direção ao restante das coisas que abandonou. Ela organiza todos os objetos ao seu redor, levanta o lençol e o estende com a ajuda do vento, se deitando no chão enquanto a lenta queda do tecido ia cobrindo seu corpo. Ao deitar-se no chão antes do tecido no seu corpo, a menina ralou as costas e fez cara de dor.
Abandonou mais uma vez o lençol, rearrumou o pequeno travesseiro, pegou o estranho objeto de plástico rosa e o possicionou no lugar onde antes estiveram as costas. Se levantou e repetiu a seqüência, deixando às mãos do vento o trabalho de cobri-la com o lençol e deitando rapidamente.
O objeto rosa, muito maior que o travesseiro, deixa o corpo da menina em estado aflitivamente desconfortável, de modo que sua coluna parece dobrar em dois, sua cabeça fica pendurada para um lado do travesseiro e seus braços pendam pelos cotovelos em ângulos esquisitos... ela parece não notar nada de errado.
Fecha os olhos e parece começar a dormir, mas de repente se lembra de algo e seu corpo se mexe repentinamente: une as duas mãos sobre o peito e faz uma oração rápida enquanto mastiga a chupeta.
Volta a relaxar...
Depois de pouquíssimo tempo, mais uma vez seu corpo todo se mexe repentinamente convergindo sua agitação para os olhos, que se espremem, enrugando todo o pequeno rosto. A chupeta rosa vibrando impacientemente na pequena boca. A menina simplesmente não agüenta mais a luz intensa do sol do meio dia e cobre os olhos fechados com o braço esquerdo.
Volta a relaxar...
Durante um minuto inteiro, ela parece adormecida.
Então, aborrecida, levanta, recolhe todas suas coisas com os dois braços e vai embora.
Esquece a sacola de pano.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

{O porquê do gostar} Dias de Sol

O que em mim se fecha em dias de chuva é o que se abre em dias de sol. São fendas na pele, mas não bem fendas, janelas! Milhares de janelinhas de vidros empoeirados a frente de cortinas muito escuras. Através delas, se vê como que por uma impressão de relance as cortinas se movendo disfarçadamente; aqui e ali, pequenas estrelas pela pele, entre os pelos, entre os suores, entre as rugas, todo o tempo, pequenos olhinhos anônimos espiam o mundo fora, camuflados na escuridão de dentro, verificando que tempo que faz.
Se faz sol no mundo fora, abruptamente os olhinhos se apagam e se faz um silêncio universal... Então, crescendo como uma sirene a aproximar-se, dentro das janelas uma agitação vai barulhando, e alguma grande comoção acontece e tudo dentro se agita, se bagunça e se organiza, até que todas as cortinas são arrancadas e todas as milhares de janelinhas são abertas violentamente, como um fôlego.
Por todo meu corpo, as janelas abertas.
Em todas as janelas, seu pequeno morador respirando fundo.
Por todo meu corpo, as janelas abertas, como um edifício em que todos os moradores resolveram deixar o sol entrar.
Em todas as janelas, seu pequeno morador respirando fundo enquanto o calor e a luz entram saqueando todos os fungos e assassinando todo o mofo.
Cada pequeno morador fecha seus olhinhos e sente uma paz quente. Se atira janela afora.
Milhares de pequenas mortes se jogam no vazio e, de repente, ao redor do edifício, não há mais vazio. Por dentro dele, tudo está iluminado e aquecido, corre um vento preguiçoso que brinca e se demora em cada maçaneta ainda por girar.
Atingindo o chão, cada pequeno morador explode, se despedaçando em estilhaços de samba, em fumaça de churrasco, vapor de piscina, cheiro de protetor solar e pedaços de cerveja gelada. Um campo imenso como o oceano cresce e se abre instantaneamente ao redor do edifício, imensas flores amarelas a olharem para o sol, um imenso tapete amarelo a olhar para o sol.
E, aí, é o edifício quem olha para fora e vê a própria sombra.

São corpos abertos. São chaves de abrir corpos. É feira livre e é carnaval de rua. São as ondas do mar. É uma larga estrada vazia no começo de uma viagem. É a solidão completa, aquela que não precisa de nada, não, obrigado. É a mais intensa parceria, é alegria. São óculos escuros e roupas molhadas. É mesa de bar que ri. São buzinas e batidas de carro, é xingamento e vai tomar no cu. São pessoas oleosas. São planos e sal. São cinco horas da tarde ou onze horas da manhã. É uma bela foto e um péssimo beijo. É sem camisa, é sem cueca, é de chinelo. É reflexo no vidro. É som ligado. É caminho, é percurso, é esperar querendo. É areia no vento. É sede, é muita sede, e sede é bom!

domingo, 9 de janeiro de 2011

acabeideperceberumperigosoedecepcionantepadrãoporaqui

Rápida Pulsação. Inquieta Relação.

Me encolho ali no seu pescoço quente, pulsando no ritmo do seu coração. Me penduro ali nas suas orelhas, brinco com elas, seduzo-as, como-as, devoro-as. Aspiro seus cabelos, sinto o cheiro dos seus pensamentos preparando um bote. Agarro os fios e puxo sua cabeça, descrevendo um caminho pelo seu rosto com os lábios, desde as têmporas até o queixo, parando nos olhos para beijá-los enquanto estão fechados, evitando a boca, provocando a boca.
Me encolho de novo ali no seu pescoço, o meu lugar favorito pulsando rápido, acompanhando o peito, pulsando rápido; acompanhando as respiração, intensa, difícil, entrecortada, obscena, pulsando rápida.
Os mamilos recuam sob o toque, se encolhem coagidos, anunciam um frio cortante a inquietar a alma,
a alma dos mamilos...
A alma dos esquilos.
A alma dos bandidos.
A alma dos arquivos.
A alma dos esquivos.
A alma dos vivos.
A alma dos tiros.
A alma dos perdidos.
A alma dos feridos.
A alma dos belos.
Dos gelos.
Dos pelos.
Dos selos.
Dos apelos.
Dos segredos.
Dos sinceros.
Dos desesperos.
Inquieta alma dos doentes.
Inquieta alma dos vermes.
Inquieta alma dos quentes.
Inquieta alma dos sobreviventes.
Inquieta alma dos indigentes.
Inquieta alma dos indignados.
Inquieta alma dos indiciados.
Inquieta alma dos amantes.
Alma dos gigantes.
Alma dos arfantes.
Alma dos ignorantes.
Alma dos tóxicos.
Alma dos práticos.
Alma dos péssimos.
Alma dos cardíacos.
Alma dos maníacos.
Alma dos lunáticos.
Alma dos loucos.
Alma dos psicopatas.
Alma dos malucos.
Alma doida.
Alma varrida.
Alma suja.
Alma-carne.
Alma canibal.
Alma gorda.
Alma final.
Alma consumida.
Alma consumista.
Alma possessa.
Alma possuída.
Alma-posse.
Alma puta.
Alma sua.
Alma inquieta.
Sigo meu caminho pulsando rápido até a rápida pulsação.
In quiet soul.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

súbitavontadedechorarlágrimasquevenhamcomodentessorrindonosmeusolhosreencontreiumamigo

domingo, 2 de janeiro de 2011

súbitavontadededesaparecereusouumbosta