terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Através da janela do escritório em um dia ruim

Uma menina caminha até o jardim.
Carrega nos braços travesseiros, lençóis, alguma coisa rosa de plástico, sacolas vazias de plástico e de pano; na boca, uma chupeta rosa.
O vento toma a sacola de pano das mãos da menina, que larga tudo no chão e corre para um resgate desesperado da sacola. Recupera no ar depois de alguns segundos e vai caminhando de volta.
Novamente o vento arranca a sacola das mãos da menina fazendo-a correr atrás do objeto roubado. Desta vez, ao recolher a sacola do chão, a menina se enfurece e bate a sacola contra o peito, as mãos muito apertadas e o rosto todo torcido de irritação enquanto vai caminhando de volta.
No meio do caminho, mais uma vez o vento. Mas a sacola está bem segura e não sucumbe às mãos que sopram sua leveza. O rosto da menina se distorce e ela olha para a sacola em suas mãos... Parece tentar entender alguma coisa... Ela joga a sacola para cima com uma força de lançar um foguete ao espaço e assiste a sacola voar.
A menina mastiga um pouco sua chupeta e continua seu caminho em direção ao restante das coisas que abandonou. Ela organiza todos os objetos ao seu redor, levanta o lençol e o estende com a ajuda do vento, se deitando no chão enquanto a lenta queda do tecido ia cobrindo seu corpo. Ao deitar-se no chão antes do tecido no seu corpo, a menina ralou as costas e fez cara de dor.
Abandonou mais uma vez o lençol, rearrumou o pequeno travesseiro, pegou o estranho objeto de plástico rosa e o possicionou no lugar onde antes estiveram as costas. Se levantou e repetiu a seqüência, deixando às mãos do vento o trabalho de cobri-la com o lençol e deitando rapidamente.
O objeto rosa, muito maior que o travesseiro, deixa o corpo da menina em estado aflitivamente desconfortável, de modo que sua coluna parece dobrar em dois, sua cabeça fica pendurada para um lado do travesseiro e seus braços pendam pelos cotovelos em ângulos esquisitos... ela parece não notar nada de errado.
Fecha os olhos e parece começar a dormir, mas de repente se lembra de algo e seu corpo se mexe repentinamente: une as duas mãos sobre o peito e faz uma oração rápida enquanto mastiga a chupeta.
Volta a relaxar...
Depois de pouquíssimo tempo, mais uma vez seu corpo todo se mexe repentinamente convergindo sua agitação para os olhos, que se espremem, enrugando todo o pequeno rosto. A chupeta rosa vibrando impacientemente na pequena boca. A menina simplesmente não agüenta mais a luz intensa do sol do meio dia e cobre os olhos fechados com o braço esquerdo.
Volta a relaxar...
Durante um minuto inteiro, ela parece adormecida.
Então, aborrecida, levanta, recolhe todas suas coisas com os dois braços e vai embora.
Esquece a sacola de pano.

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