domingo, 9 de dezembro de 2012

mamae querida
meu coração
por ti bate
como um
caroço de
abacate

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Maio me trouxe a Junho

Nunca tinha olhado pra cara de junho desta forma. Reparado em como o nariz se torce com nojo de tudo, os olhos marejados de um'água que não vem da dor, a boca cheia de fumaça e só, o jeito como junho pisa quieto, irritante. Mais do que nunca eu odeio junho por me olhar com tanta familiaridade. Eu não tenho nada contigo! Não me olhe como se fôssemos íntimos porque não somos. Junho não significa nada. Mas a vontade é tanta de por toda a culpa das razões em algo. Deve ser o mês, deve ser culpa de tempo, não de espaço. Por favor que não seja de espaço. Espaços andam pra frente e pra trás com tanta facilidade que a gente começa a andar na lógica deles e quando vê está caminhando sozinho. Com o tempo não. Não tem como errar. Ele só anda pra frente e a gente caminha ao lado dele ou deixa ele ir sem a gente. Tem que ser culpa do tempo. Junho destruiu a música que eu amava, a música que acompanhou meu amor, simples e suave coisa. Pediram "bis", junho levantou o copo de vinho como se brindasse, saiu e não voltou mais. As luzes do palco se apagaram, acenderam-se as tristes luzes de serviço. Junho ficou cristalizado de uma forma surpreendentemente desapontadora. Eu peço perdão a junho por todas as mentiras. Junho não tinha esse direito! No samba, ignoro todas as notas de alegria e danço em qualquer de tristeza e cansaço. Sambo no esquecimento de todas as músicas que nunca tinha ouvido. Eu vou parar de pedir. Escrevi uma frase e me arrependi. Vou parar de pedir. Vou pegar mais um copo de vinho e volto já. No segundo copo de vinho, no primeiro junho, eu já posso dizer que a culpa é minha. Foi minha na primeira vez, na segunda também, na terceira nem tanto, mas na quarta definitivamente foi. E são tantas pessoas caídas nos meses passados. Voltei pra levantar a primeira, abandonei a segunda, fui abandonado pela terceira e cai junto com a quarta. Abracei o maio da terceira com tanto desespero, bebi tudo até chegar a... junho. Veio julho... Veio agosto. Logo eu que só sabia de janeiro e dezembro. O meu aniversário e o mês que o precedia. Que quando me perguntavam pelo mês, abusava do charme de dizer que não sabia que mês que vinha. Agora tenho nos meses histórias de fim e começo. Só gostaria de dizer a junho que agosto foi fim, setembro foi fim, outubro foi fim. Em novembro simplesmente senti falta do fim. E em dezembro não me recordava mais dele. Janeiro foi pausa e fevereiro foi recomeço. Desde então, março foi começo, abril foi começo, maio foi começo, mas junho não. E o fim finalmente chegou. Uma certeza que junho me trouxe é que é muito melhor ser deixado pra trás. E não posso me esquecer da força que encontrei em maio, quando isso aconteceu.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Diário de Lisboa . Cuspe

Tenho febre, mas vou buscar nosso dinheiro... Quer saber? Que se dane...Pelo que vai ser? Pelo que já é! E que seja assim, que seja pelo que é. Se ser está difícil, deixa estar... esteja! Essa porra toda é uma piada e tudo que é uma hora deixa de ser. E tudo que nunca foi de repente é demais. É assim. E amanhã não vai ser mais, até porque aqui é hoje, aí é amanhã. E amanhã aqui é longe demais daí. Não faz sentido! Não faz sentido! E a gente cansa de sentido também, não cansa? Tem gente que diz cansar do sucesso e do amor, da felicidade e da paz... que sentido faz? Pra qualquer sentido que se queira ir se acha um significado qualquer. E o tamanho de qualquer sentido é exato da gaveta de qualquer plano antigo. Tá com vontade de sair correndo por aí? Fica aí sentado porque isso é que faz todo o sentido! Sentir um pouquinho menos, meu chapa! Sentido é o cacete! Põe um música pra tocar e se conforma que não tem como fazer parágrafos, se conforma que não tem gente suficiente no mundo pra suprir toda a companhia que se quer. Tira o sapato e chora! Exercita a falta de sentido porque isso é bonito e beleza não precisa de explicação, diferente do que é interessante. Faz da memória um rascunho velho e risca, corta, reescreve, reinventa... Que merda de lealdade ética é essa que se deve a outra pessoa? O que isso tem a ver com caráter, com verdade, com integridade? Qual o problema de se definhar a olhos vistos? De corromper todas as formas de amar, de relacionar, de trucidar os próprios elos como se não fossem mais do que uma teia de aranha ridícula? Faça-me o favor e não me obrigue a ser melhor que ninguém! Antes tenha de mim a pior hipótese, a mais grotesca expectativa. Vou mais é procrastinar cada sonho! Sinceramente, não preciso de nada que já não tenha, e já está difícil administrar esses vícios todos! A bipolaridade é só mais uma psicopatologia de cada um de mim, e este polo aqui está pouco se fodendo pra coerência e pra parcimônia. Eu só não quero precisar me obrigar. É tudo. Adeus.

sábado, 12 de maio de 2012

Diário de Lisboa . Pinóquio em Estoril

Ah! Olha lá... tem uma música se esgueirando na distância entre a pele e os ossos. Ah! Ainda tem pelo que se arrepie? Ainda tem pelo que se arrepiar. Olha aqui! Litros e litros e litros e litros e litros de sol. Gotejando dos olhos num abraço frio do Atlântico, o doce do Atlântico. Mas que sede é essa, cacete? Lamber a areia toda desde a praia até o fundo do rio, a ponta dos dedos como quem se delicia da lembrança do que foi bom. E quilos e quilos e quilos e quilos e quilos e quilos e quilos de sol. Passando por baixo da ponte e afundando na água como chumbo, se colocando em peso sobre mim, colado ao chão mal podendo respirar. Ah! Olha que a gente não sabe nada dessa pressa toda, a gente só sabe dessa luz bonita. ............................................................................................. Autocarro errado que se faz certo, o 714 dá voltas em oito no intestino da cidade, com tantas pessoas tantas pessoas tantas, todas, dando voltas no intestino do 714, a reclamarem sempre, que é sua felicidade, a reclamarem dos oitos, do intestino, do 714, da cidade, das pessoas, das reclamações, a serem tão felizes sisudas. São como crianças a quem se deixa brincar, são tão bonitas. Todas! Com as voltas que dão dentro de si, espetando seus bicos na paisagem escorrendo pelas janelas do 714. Descendo e subindo, embarcando e desembarcando, dando colo e decolando. O eléctrico 28 e o motorista sisudo, tão lindo, tão lindo. Talvez seja pela luz, mas tão lindo tão lindo nesse sol. Pergunto e não responde, pergunto e responde que não, não pergunto mais nada e o intestino treme dando mais voltas dentro de si, oscilando o bico reclamão, vacilando o olho. O 28E vai batucando rumo a não se sabe onde desce, mas desce mesmo assim porque tem sol, tem Feira da Ladra na Graça, e tem ladrão! E tem também a velha que está sempre no bar, tem as molduras antigas e lascadas, as revistas pornô de 72, um pato feito de conchas, tem sol bem barato. Tem ladeira a que se sobe e a que se desce até o Cais do Sodré. Dois sanduíches na beira do rio e Roberto Benigni desejando ser um menino de verdade. Vamos a Cascais! Pega o comboio pra Cascais! 4,10 de ida e volta, o cartão verde. Vamos a Cascais! O comboio, a viagem, a longa viagem, nem tão longa assim, mas é viagem e viagem é sempre longa, é viagem de 20 minutos. Desce em Estoril onde aguarda um loft, um quarto único com única cama, um pedaço de homem sem pernas pra ir embora nem cabeça pra desaprovar, um estúdio, um manequim que é mulher colada de azul e recortes, pedaços, retalhos, ornamentos, Bob Wilson, um limoeiro com limão que não se come, com limão tão grande tão grande, tão amarelo, tão melancia e tão melão, uma solidão com algum pedido, um cafezinho com cigarro, e as pessoas tão bonitas, dessa vez não sisudas, mas sorriem tanto tanto tanto, todas, todas sorrisos, tantos! Pés descalços, mãos nas paredes, sentada no chão, açúcar que sobra e tudo branco tão limpo. Não por ser casa, mas por ser mais do que casa, por se desconfiar descascar a pintura e descobrir carne, abrir a torneira e lavar-se em sangue. Mas vamos pra Carcavelos, pra praia, sem roupa de banho, sem vontade de banho, até mesmo sem sol. Mas mergulha nas algas vermelhas, roxas, nas águas coloridas da minha vida, na onda roxa a atravessar a altura da cabeça. Cuidado com as pedras, tropeça e cai, mas cai na próxima onda, que depois dela tem mais outra e mais outra e mais outra e mais outra. Esse é o Atlântico, tão quente nas areias da América, tão frio aqui, mas com sal tão doce. E a gente só pode rir, porque é o que sobra quando não se sabe onde guardar qualquer coisa, ou se chora, mas é tanto mar e tanto mar que o que chora se confunde com as ondas e o que se sangra se confunde com as algas, então se ri. Ri-se muito, muito muito e tanto tanto. Mergulha na areia e sol começa a rir também. É tudo uma grande piada portuguesa, "tem piada nisto", e tem muita piada mesmo, é giríssimo, giríssimo. Os ladrilhos no chão dividindo o caminhos em partículas em que não se sabe caminhar. O caminho que leva a uma ponte que não se atravessa. Mais água! Uma foto tão maravilhosa e eu a me inundar daquela fotografia, os patinhos descrevendo a palavra brega sobre a água azul tão azul, tão verde, tão transparente que eu me misturava nela e talvez não me vissem. Mas me vêem. E eu me sinto a própria ponte, a água passando por mim, eu sem ser um obstáculo. Na volta, um prato de caracóis, de tremoços, de cascas de batata fritas, de mexido e farinheira, de chouriço, de pão, de cerveja. Em casa, tirar a roupa do varal, por roupas na máquina, por dvd no drive. Pinóquio. E Robertos querendo tanto ser um menino de verdade.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Diário de Lisboa. A borda

Estou com saudade de ser poesia. Tem batido um vento tão forte que fiquei com os galhos secos, com toda a poesia a murchar nos meus pés. Estou feito só de respostas, de reações, de reflexos. Estou sem remos nem velas, prestes a abandonar o barco. Tenho procurado meus olhos fechando lentamente, brilhando discretamente, contando um segredo explícito, os créditos subindo. Tenho procurado um motivo pra entristecer, mas não se acha... Desaparecido junto com a vontade de acordar de manhã. Estou com saudade de uma esperança boba e de um sonho gigante. Meu sangue envelheceu e contaminou todos os órgãos com os glóbulos violetas do fim. E todo o organismo parece gemer na mesma frequência irritante, inaudível, insuportável. Vi nos olhos de uma amiga uma beleza tão grande, tão grande. Um brilho tão frágil na íris, uma pupila tão facilmente dilatável, canais tão banalmente lacrimais. Me envergonhei de onde me enterrei, do forte que construí e do quão fraco fiquei. Acostumar-se é uma merda.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Diário de Lisboa . Manifesto de Calvin

Eu quero a euforia, felicidade não basta... Às vezes a gente tem a obrigação de ser feliz. Vamos rindo, rindo, sorrindo, rindo, gargalhando, rindo, sorrindo. São tantos dentes, é tanto dente. É tanta ruga de sorriso, de riso, de ser sorridente, de sorrir, de sorrir, de rir enrugado. É uma máscara bizarra contorcida, tão doente, de boca aberta como se engasgasse, histérica como se louca. Sorridente, assustadora. E aquela história de que a tristeza não tinha fim, e sim a felicidade? Que sensação mais aterradora essa de dois ganchos guinchando cada canto dos lábios para as orelhas! Que esvaziamento da diversidade inter-relacional isso de começar e terminar tudo com um sorriso! Que positivismo imbecil isso de potencializar qualquer miséria! Que foto super-exposta essa de não se deixar nunca de dizer "x"! Que palhaço deprimente desse circo de mundo! Fecha essa boca! Aperta esse riso! Faz um nó na felicidade! Sorrir não é prerrogativa pra se estar no mundo, muito menos pra comprar pão. Aliás, muto menos pra vender pão. Simplesmente a felicidade está gasta. É como uma faca cega tentando cortar um pulso por toda a eternidade. A felicidade deu o cu tinha e o cu não tinha pra todo mundo e terminou com a b...........oca arrombada. Só me deixa um pouco quieto, pode ser? Não me venham com suas vontades, seus sonhos, suas presenças, suas levezas, seus confortos, suas lições, ansiedades e tédios, seus convites. Não olhem pra mim que eu não posso correr o riso de arriscar...

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Diário de Lisboa . E se

nada é bom hoje.
É difícil admitir.
Acordar cedo não ajudou. Rir não ajudou. Almoçar bem não ajudou. Ganhar um presente não ajudou. Matar aula não ajudou. Correr na beira do rio não ajudou. Desenhar não ajudou. Escrever não ajudou. Lembrar não ajudou.

É como se eu percebesse que meu relógio quebrou e eu perdi um compromisso muito importante.

Eu estou cansado de tentar.

É como querer de repente esquecer tudo que eu já quis. É como querer passar a vez pra alguém.