sexta-feira, 11 de maio de 2012

Diário de Lisboa. A borda

Estou com saudade de ser poesia. Tem batido um vento tão forte que fiquei com os galhos secos, com toda a poesia a murchar nos meus pés. Estou feito só de respostas, de reações, de reflexos. Estou sem remos nem velas, prestes a abandonar o barco. Tenho procurado meus olhos fechando lentamente, brilhando discretamente, contando um segredo explícito, os créditos subindo. Tenho procurado um motivo pra entristecer, mas não se acha... Desaparecido junto com a vontade de acordar de manhã. Estou com saudade de uma esperança boba e de um sonho gigante. Meu sangue envelheceu e contaminou todos os órgãos com os glóbulos violetas do fim. E todo o organismo parece gemer na mesma frequência irritante, inaudível, insuportável. Vi nos olhos de uma amiga uma beleza tão grande, tão grande. Um brilho tão frágil na íris, uma pupila tão facilmente dilatável, canais tão banalmente lacrimais. Me envergonhei de onde me enterrei, do forte que construí e do quão fraco fiquei. Acostumar-se é uma merda.

2 comentários:

  1. ei, não naufrague enquanto o tempo passe...
    construa outros sonhos bobos imediatamente enquanto os órgãos ainda pulsam.

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  2. quanta saudade da sua poesia
    até da sua fumaça eu sinto.

    ps: ainda bem que tem esse barco aqui pra me perder.

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