quarta-feira, 6 de abril de 2011

Lágrimas Guardadas

Houve, sim, momentos em que fingi, em que assumi um controle que não tinha, em que disse que tudo iria ficar bem comigo, que não havia diferença entre as suas costas indo e o seu sorriso vindo. Enquanto seus olhos eram postos em mim, eu te servia um ´adeus´ sorridente.
Mesmo então eu nunca te neguei uma lágrima. Eu, uma casa que chovia por dentro, a tempestade fustigando as janelas dos olhos, uma enxurrada descendo garganta abaixo.. e... um `adeus´ feito de sorriso.
Mas no instante em que seu olhar deixou de me cobrir, senti um frio-solidão, você partindo de mim e, de repente, tanto espaço vazio aqui dentro, tantas coisas abandonadas e sem função, brinquedos abandonados ao pó, perdendo sua graça tão rápido quanto seus passos de saída.
Eu, uma casa vazia às três horas da tarde, parado no mesmo lugar em que me deixou, em uma calçada sem rua, em um lugar sem endereço, sob uma árvore sem sombra, observando suas costas levarem seus cabelos embora, o cheiro da sua pele, a mania das suas mãos, a personalidade do seu andar... tudo seqüestrado pelas suas costas.
E apenas quando te perdi de vista e te vi longe demais da minha calçada, foi que quis te negar uma lágrima. Justamente aí elas me inundaram e transbordaram: quando percebi que nunca houve em você uma lágrima guardada só para mim.

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