sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Modelo Vivo

A pele amassada, suja, velha, puída,
Passada, lavada e novamente suja, encardida.
Pendurada, sêca.
Pele rasgada, furada. Traça.
Traça.
Traça, traça, traça.
Fedida e mofada.
Pele rôta de mofo.
Naftalina e baratas na pele.
Mendiga epiderme. Pedinte.
Pele morta.
Pelindigente.
Pele morta em cova comum.

Se em algum lugar um zíper...
Se em algum lugar uns botões...
velcro...
um laço frouxo para se desamarrar...

Na base das costas, subindo,
um caminho prateado e dentado.
Puxa com carinho o zíper, despindo.

Nas virilhas, botões.
Vermelhos, três de cada lado, com detalhes metálicos.
Desabotoa com carinho. Despeja os botões de suas casas e queima.

No peito e na testa, discreto, o velcro.
Uma grande tira de velcro de um mamilo a outro.
A segunda, de uma têmpora a outra.
Arranca agora com violência e susto.
Desprega as partes naquele som repentino e eu já recupero o fôlego.

Desafivela nos quadris e nos pulsos,
desata nas batatas e nas maçãs,
desamarra no pau,
desfaz algumas costuras e recorta algumas fibras.

Agora sim, nu.

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