quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Na Fogueira

E eu vou fingir que a luz da lua na pele enfeia, que a luz do fogo na pele é gelo. Que os peitos direitos me olhando assim são o estrabismo de uma alma a usar o corpo como óculos. Vou fingir que as divinas fronteiras em que o corpo faz divisa com todo o resto do mundo são terremotos aposentados, que meu tremor é frio, que meu tremor é doença. Meu tremor é terminal e fatal. E eu vou fingir que os movimentos de mãos assim são alívio das moscas. Só. Alívio das moscas... só... Os movimentos das mãos... alívio das moscas... Que a fantasia de sonho é boba, como a bochecha, como os fios de cabelo, como a bunda, como os mamilos, como as costas, como o pescoço e a orelha, como os lábios e a língua. Que é bobo se fantasiar assim! Eu não suporto! Os olhos direitos choram por gostar demais, os esquerdos, por não suportar mais! E, no entanto, todos eles choram.
Os dentes choram ao fingir. A voz queimando o ar, envenenando os ouvidos com a tranquilidade da indiferença, me alcoolizando, meus olhos vomitando.
O seu doce pássaro pousando em todos os ombros e cantando músicas aos ouvidos mais nojentos. Todos fingindo.
Eu vou fugir.
Me refugiar nas proximidades dos domínios do seu fingimento.

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