domingo, 19 de fevereiro de 2012

Diário de Lisboa. 2h27min

2h27min em Belém.
No Brasil, 00h27min.

Em Brasília as pessoas pensam sobre entrar na madrugada, se é uma boa opção, avaliam as consequências ou arcam com o inevitável...
Enquanto isso, eu, cá, ainda em Brasília, pego de surpresa por essa mesma madrugada que já se adianta e já corre rápida me fazendo lembrar que a hora do almoço é ao meio dia e não às três da tarde, e que o jantar é aceitável às 22h, mas não em plena meia noite.

Apesar disso, minha última madrugada nesta cidade fria, que cultua os grandes navegadores apodrecidos, evaporados e chovidos, tornados parte do mesmo mar que dominaram, durou uma semana. Uma semana... É muito tempo pra madrugada.

Às 2h27min na Rua do Embaixador eu fumo um cigarro sob as cobertas enquanto Nina Simone me fala "Don't smoke in bed", bebo uma garrafa de vinho em que espero encontrar o ritmo certo dos batimentos cardíacos e da frequência sináptica.

Acho que foi uma semana de garrafas de vinho português e cigarros sob as cobertas às 2h27min. Uma semana que passei debaixo das cobertas, protejido do frio e da compreensão de que, afinal, o cigarro é mais caro do que o vinho; uma semana achando que, além de mim, lá fora é tudo escuridão, silêncio e deserto. Uma semana de madrugada sem esperar que o dia viria.

Foi justamente no carnaval que veio a manhã. Soou o despertador verde e minúsculo no criado-mudo para dizer que o dia existe para por os sonhos da noite em existência. 2h27min e é hora dormir para acordar, pos aqui o dia chega com duas horas de antecedência.
Um chão repleto de confetes e serpentinas mortos... dando vida àquele chão tão regular, acompanhados de um batuque xoxo, em que o melhor era se satisfazer com o bloco brasileiro de carnaval, que puxava todos os outros, mas que sobressaía smplesmente por não parecer uma marcha militar. E no final das contas o que resta à paciência é se embrenhar pelos labirintos do Bairro Alto.

Agora são 3h13 e muita coisa acontece entre uma linha e outra, mas somente o que pode ser ilustrado pela infinitude do vazio vale a pena entender. Estou cá a mirar el fluir do Tejo con ganas de stay here, pois.

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