quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Diário de Lisboa . Casa-quarto

Dia de faxina e arrumação.
Fiz uma limpeza naquilo que estava inaceitavelmente sujo, dobrei algumas roupas que estavam largadas no chão, organizei e classifiquei papéis em gavetas, armários e pastas, desempacotei pincéis, pastéis, lápis de cor, canetas e outros lápis, papéis em branco, separei as fotos que ornamentarão as paredes, aquele desenho na escada, coloquei o reloginho verde sobre a mesinha.

Agora o peito parece finalmente habitável, está mais confortável para o coração, mais acolhedor para o pulmão, mais espaçoso para as costelas. Estou a encher o peito de respiração neste momento, o ar estranhando a ausência - momentânea, eu sei - de bagunça e desorganização, deitado no chão do peito, olhando pela pequena janela da masmorrinha da garganta.

Aqui fora também aconteceu de forma parecida, na verdade, de forma exatamente igual: fiz uma limpeza naquilo que estava inaceitavelmente sujo, acalmei as saudades que estavam largadas pelo chão, organizei e classifiquei os planos e expectativas em gavetas, armários e pastas, desempacotei os desejos, as vontades, o vigor, as esperanças dos papéis em branco, separei os momentos e pessoas que ornamentarão as paredes, aquele sentimento, coloquei o reloginho verde sobre a mesinha.

E agora está tudo branco nas paredes brancas. Um quarto quase livre dos resquícios da viagem senão pelas malas atrás da porta, esperando por nova bagunça. Uma de resquícios da permanência, do lixo que surgir daqui, do que morrer da vida aqui, do que simplesmente nascer.

Ao chegar da rua, chegar em casa. Um martini à espera, uma portuguesa chamada Ana,um convite, um pouco de inglês com o alemão, tabaco na mortalha, música e Amanda.
Chegar em casa...

Chegar em casa até que se esteja em casa.

Ps.: e as horas da madrugada ainda me surpreendem.

Um comentário: