segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Coração Genital

A cabeça sempre cheia, morrendo e ressuscitando sempre, se afogando, sufocando, transbordando, molhando seus colarinhos e bonés.
O pensamento, junto com o líquido semi-cerebral, então começa a empapar suas sobrancelhas, o obriga a fechar os olhos e deixá-lo passar, escorrendo pelo nariz e obstruindo suas vias sem respirar, umedecendo e melando os lábios, lambendo a língua e penetrando a garganta, escorregava de volta ao mais explícito íntimo.
Pensava no que era logo antes de concluir na interrogativa de se se tem de ser, a pergunta positiva de que tudo era um ninguém de nada e que nada era de alguém, pois todo ninguém era exatamente a ausência de tudo, inclusive de nada, mas principalmente de alguém.
Num raciocínio confuso voltava a ser beijado pelo extravasante pensamento, engolia aquele gozo lógico e voltava ao pensar enquanto secava a gola e os cabelos, ensopados de prazer-líquido semi-cerebral.
Se em meu ovário interno possuo tanto gozo de mim, em que fraldário guardarei tantos filhos do eu?
Ao tentar cuspir o pensamento em um ninguém ou outro, nada fecundou. Bonés e golas secas se despedem dos abortos sem comiseração. É a camisinha inter relacional, protegendo os amados de se ocuparem do segundo, de se dividirem, apenas deixando seguir a doença, o podre atraente de si.
Quando se aprende a viver neste cemitério de nossos eus abortados, amontoados em membros desconexos pelas padarias, pelos corcovados, pelos quartos e estradas, caleja-se. Acostuma-se a não mais sentir prazer no toque do ninguém.
A frigidez é solidária e não impede encenações de coito, é até afrodisíaca para posições mais e mais devassas, testando os limites do tédio no ócio. Essa frigidez é apenas infertilizante, impedindo que fragmentos aformes, acéfalos, anômalos, amados tenham esperanças em ambiente hostil.
As sobrancelhas novamente molhadas, o fôlego retornando enquanto sentia o pensamento descer, imaginou os tantos filhos do eu dele desabrigados, fadados a morrer de desamparo logo após o nascimento do fecundo. Expostos ao tempo de um íntimo infinito que não garantiria moradia nem mesmo á finitude do querer viver, do precisar continuar. Vontade, esta, que há muito tinha se desprendido das costelas, morrido de frio e calor sob o clima turbulento e suscetível do dentro.
O melhor é parar de pensar, ou prosseguir pensando, mas não mais sentir.

3 comentários:

  1. Passei por aqui. Li tudo, muito bom!!! Gostei do guri do banco imobiliário! Beijos,

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  2. Há vezes em que eu n entendo quase nada,mas é bonito do mesmo jeito.
    =)

    Agora pode fazer um poema de amor pra mim,acho que vc tá preparado.
    ;)

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  3. quando leio seus textos eu fico fascinado,
    e pensando comigo como o roberto que eu conheço e converso faz esses textos, aí percebo que um ser que eu já acho fantastico é mais fantástico do que aparenta ser e que ele esconde tudo isso dentro dele, talvez por ser humilde, talvez por ser misterioso, mas de qualquer forma você me fascina sempre. Lucas

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